quinta-feira, dezembro 03, 2009

h o j e *

"Efectivamente, se Evguéni Irténev era doente mental no momento do crime, então todas as pessoas são doentes mentais, e, entre esses dementes, os mais enfermos são sem dúvida os que vêem os sinais de loucura nos outros e não reparam em si próprios".

O Diabo, Lev Tólstoi

* ou o clássico como lugar-comum.

quarta-feira, novembro 18, 2009

É como diz o Ástrov: andam todos a destruir florestas, é insensato, daqui a pouco não resta nada na Terra. Pois os senhores fazem a mesma coisa com as pessoas, destroem-nas com insensatez, e daqui a pouco, por culpa vossa, não resta fidelidade na Terra, nem pureza, nem a capacidade do sacrífio pessoal.

Èlena em O Tio Vânia.

la danse qui se danse

segunda-feira, novembro 16, 2009

Margarita e o Mestre pode dar nisto.

De repente a cidade recebeu a visita dele. Do maléfico, do corrupto, do calculista. Mas ao contrário do que se estava a espera, a cidade rendeu-se aos seus encantos. Afinal de contas ele é mágico. E, quem não quer magia? Mesmo que seja negra. O alvoroço instalou-se. Todos solicitavam uma hora com ele. Era a conversa do dia, de todos os dias, abertura de telejornal. Um conhecido jornal gratuito resolver fazer um voxpop sobre o tema e lançou a questão.

"Por quanto vendias a tua alma ao diabo?"

Eis uma das respostas:

Se fosse há uns tempos atrás vendia-a em troca do amor da pessoa que eu amo. Mas depois acordei e acho que se encontrasse o diabo pedia-lhe tempo. Tenho muita coisas, muitas ideias por concretizar e o dia não chega para tudo. Não...esperem aí...acho que era bem isto que eu pedia. Ou era? Sim! Era isso....sabem eu quero ser apresentador de televisão. E vocês sabem, um apresentador tem o dia todo preenchido...não...não era paisagista? Sim era paisagista...a minha mãe adorava que eu fosse engenheiro alimentar, por causa dos transgénicos...isto é para que jornal? Vão tirar foto? Oh não, devia ter vestido hoje a camisa que comprei ontem. Fica-me bem e eu dou impo
Jovem Russo que passava na rua às 15h23

Como devem ter reparado, a resposta do jovem russo ficou incompleta. Mas as respostas de voxpop só podem ocupar um linha e meia do jornal.
O diabo continua pela cidade e tem um gato amoroso.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Quanto tempo têm os jovens russos?

Os Jovens são donos do tempo. Têm-no. Todos os dias. Têm-no hoje, amanhã, para a semana, para quando fizerem 30 anos. Mas a merda dos Jovens Russos não percebem que estão eternamente à espera?

- Por favor Isac, estou indeciso...pode ficar para depois?
- Claro, está tudo bem.
...
- Isac? Ainda estás aí?
...
- O pior é que estou.

quarta-feira, outubro 07, 2009

os jovens russos conversam no café / na taberna

"Raskólnikov estava extremamente agitado. Naturalmente, tudo aquilo eram conversas e ideias das mais vulgares e frequentes entre jovens, ele próprio as ouvira mais de uma vez, só com outras formas e sobre outros temas. Mas porquê naquele preciso momento havia de ouvir precisamente aquela conversa e aquelas ideias, quando na sua própria cabeça tinham acabado de nascer... ideias exactamente iguais? E porquê precisamente neste momento, mal ele acabava de sair de casa da velha com o embrião da sua ideia, foi ouvir precisamente uma conversa sobre a velha?... Esta coincidência sempre lhe pareceu estranha. Aquela insignificante conversa de taberna teve sobre ele uma extraordinária influência no posterior desenrolar dos acontecimentos: como se realmente houvesse ali uma predestinação, uma indicação..."

em Crime e Castigo, Fiódor Dostoievski

quinta-feira, setembro 17, 2009

RE: Para onde vão os Jovens Russos?

"Do you know, sir, what is to have nowhere to go to? One must of necessity go somewhere."

in Fyor Dostoyevskt's "Crime and Punishment"

quarta-feira, setembro 16, 2009

Para onde vão os Jovens Russos?

Em 1812, a grande armada de Napoleão entra em Moscovo, mas vê-se forçada a abandoná-la pois ao chegar a esta cidade, esta estava vazia.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Na Comuna mora o melhor momento musical em playback da temporada*


* protagonizado por Carla Gomes. A seu lado o momento dos morcegos por Miguel Raposo, o ataque do sabonete líquido por Carlos Malvarez e o sonho de uma meia esburacada por Pedro Oliveira.

terça-feira, setembro 08, 2009

Em Portugal, os jovens Russos podem dançar de olhos fechados.

Mas qual é o função da dança? Entreter e maravilhar com passos virtuosos? E em que é que isso difere do circo? Comover com cenas fortes e lamechas? E em que é que isso difere do teatro?
Enquanto não obtêm respostas, os jovens Russos continuam a preparar-se para a guerra, a combinar casamentos, a jantar em mesas redondas, a ter medo do escuro, a ser contidos e a possuir a teatralidade natural para dançarem de olhos fechados.

terça-feira, julho 21, 2009

terça-feira, julho 14, 2009

A troca de galhardetes*


Demo, um Musical Praga.
de 17 de Julho a 2 de Agosto 
quinta a sábado às 21h
domingo às 17h30
no Teatro Municipal São Luiz


* ou a nossa caravela vai andar naquele palco primeiro do que nós.
Desculpa Balacó por esta apropriação do asterisco.

segunda-feira, julho 13, 2009

OS JOVENS RUSSOS ...

ÁSTROV - Eu gosto da vida, de uma maneira geral, só não gosto desta vida provinciana, russa, desta rotina pequeno-burguesa, detesto-a com toda a minha alma. No que diz respeito à minha vida pessoal, não é nada boa, juro. Sabe, quando andamos no meio da floresta numa noite escura e vemos ao longe uma luzinha nem nos damos conta do cansaço, nem da escuridão, nem dos ramos espinhosos que nos batem na cara... No nosso distrito, eu trabalho como ninguém (a menina sabe), o destino não pára de me assestar golpe em cima de golpe, às vezes sofro insuportavelmente, mas não tenho a tal luzinha ao longe. Já não espero nada para mim, não gosto das pessoas... Há muito que não gosto de ninguém. (...)
Os mujiques são todos iguais, subdesenvolvidos, vivem na porcaria; quanto aos intelectuais, é difícil conviver com eles. São cansativos. Toda essa gente com quem privamos tem ideias mesquinhas, sentimentos mesquinhos e não vê para além da ponta do seu nariz. É pura e simplesmente uma gente estúpida. E depois os outros, quando são mais inteligentes e substanciais, são logo uns histéricos, estão corroídos pela análise, pela introspecção... Olham para uma pessoa de lado, aproximam-se dela de través, lamuriam-se, têm ódios, são doentios a caluniar, e concluem: "Oh, é um psicopata!", ou: "É um fraseador!" Mas quando não arranjam uma etiqueta para colarem à minha testa, dizem: "É um homem estranho, um esquisito!" Gosto da floresta - é esquisito; não como carne - isso também é estranho. Já não existe uma atitude espontânea, pura, para com a natureza e as pessoas... Não há! (Faz tenção de beber.)*

*excerto de Tio Vânia, de Anton Tchékhov, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra

o Há-Que-Dizê-Lo na História e nas estórias do Teatro

LOPÁKHIN - Lá isso é verdade. Há que dizê-lo de caras, nós levamos uma vida estúpida.*

* excerto de O Cerejal ou O Ginjal ou O Pomar das Cerejeiras ou A Ginginha de Anton Tchékhov, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra

segunda-feira, junho 29, 2009

pela figuração.




                                                                     (bem, por tudo no fundo.)

sexta-feira, junho 12, 2009

No principio era o verbo... VENDER


Foi assim que começámos a juntar dinheiro para os nossos espectáculos e afins, já lá vão 4 anos. De geleira na mão, primeiro, e depois junto ao Santiago Alquimista, por dois anos. 
E agora em Alfama, very tipical Alfama!
Hoje a cerveja máis fezquinha e a noiva mái bonita do Santo António estão como Há-Que-Dizê-Lo, na Rua de São João da Praça (a que começa à direita da Sé, nós estamos mais lá para o fundo).


quinta-feira, abril 30, 2009

A arte na vida. A vida na arte. O trabalho da vida. A vida dá trabalho. O trabalho de fazer Arte. A Arte do trabalho.

Amesterdão
Wieden Kenedy
Kessels Kramer
Londres 
BBH
AMVBBDO
Mother
Tentar fazer música com os copos
Comecei a arrumar as coisas na sala
Parto
Mostrar a toda a gente o herdeiro da Escócia
Hotel Aladin - 86 euros
Apanhei o nº32 até ao Hospital Santa Maria
Fui ao local onde enterrei o corpo
Rádios Kitados amanhã às 17h
Depois da acta: ir ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas
Santos Populares: copos, barril...
Músicas para a Angela:
Avril Lavigne - Girl Friend
WWE - Kane, Undertaker...
Bruno Nogueira - Dia 23 de Junho - 7 bilhetes
Crepes: 2 ovos; 1 litro de leite; 500 g de farinha; 1 pitada de sal. mexer na batedeira
Ensaios para animações: 4 -quarta; 5; 6; 7 -sábado às 17h
Respostas:
sim;
não;
talvez;
claro;
achas?
tens a certeza?
não
Sim
Claro
Achas?

Armazéns desde 51, 50 euros por mês, a partir de 4,5 metros quadrados. junto à porta sul do Parque das Nações.

sexta-feira, abril 24, 2009

Para ver como quem olha Lisboa do outro lado.






Paisagens Incompletas é uma tentativa, um conjunto de fragmentos que originam múltiplas paisagens e que se formam através da influência de vários autores (Antoine Artaud; Samuel Becket; Sarah Kane; Herberto Hélder; José Maria Vieira Mendes e Jean-Luc Lagarce) e também na relação, artística e criativa, dos intérpretes com um conjunto de temas e pressupostos: revolução, morte, amor, ridículo, trágico, festa, biografia, ficção, retrato e auto-retrato.
Espectáculo do 2aCircular
Encenação de Tiago Vieira
23, 24 e 25 de Abril
às 21h30
no Ginjal (Cacilhas) 

resto de "paisagens incompletas"

O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor pôe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus,
e dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.

Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.

Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.

O actor em estado geral de graça.

helberto hélder

sexta-feira, abril 17, 2009

PARA QUEM ESTIVER NO PORTO. OU VAI IMEDIATAMENTE APANHAR O COMBOIO. OU O EXPRESSO. OU O AVIÃO. OU O CARRO. OU VAI À BOLEIA. OU A PÉ. A PÉ NÃO DÁ.


Desde que chegues e assistas à coisa mais bonita que vi nos últimos tempos. Coisa no melhor sentido da palavra.
Teatro Helena Sá e Costa. Dia 18 e 19 de Abril (Sábado e Domingo), pelas 21h30.

terça-feira, abril 07, 2009

ALTERMODERNIDADE

E porque a Sónia há uns tempos tentou tranformar este blog numa plataforma de discussão (aberta ou semi-aberta, nunca pensámos nisso) sobre a arte em geral e sobre tudo o que nos interessar em particular, e porque essa nobre tentativa não vingou, eu volto hoje a lançá-la. E começo com um artigo do Ipsilon de há umas duas ou três semanas (confesso que li na sala de espera do dentista):

O pós-modernismo morreu, viva a altermodernidade
(Clicar  para ler o artigo)

"Na trienal da Tate, em Londres, um francês abriu nova etapa na discussão sobre a identidade da cultura e dos artistas de hoje. Modernos ou pós-modernos, quem somos? Nem uns nem outros, antes seres de uma nova era em que se age e cria a partir de uma visão positiva de caos e complexidade. A altermodernidade, segundo Nicolas Bourriaud."


<< O "flâneur", aquele que percorre a cidade, deixando-se perder na sua observação. Isto era no século XIX, hoje as cidades não chegam - o "flâneur" de uma altermodernidade corresponderá a um nómada global, ou, em rigor, a um errante cultural, aquele que procura o inverso do enraizamento absoluto, ou seja, aquele que põe as suas raízes em movimento, encenando-as em contextos e formatos heterogéneos, negando-lhes qualquer valor como origem, traduzindo ideias, transcodificando imagens, transplantando comportamentos, trocando, mais do que impondo. Um nómada cultural que transforma a "flânerie" numa técnica de geração de criatividade e conhecimento.

"E se a cultura do século XXI fosse inventada a partir daqueles trabalhos que se lançam a si mesmos o desafio de apagar as suas origens e falar de multiplicidades de enraizamentos sucessivos ou simultâneos? Este processo de rasura", diz Bourriaud, "é parte da condição do errante, uma figura central da nossa precária era e que aparece insistentemente no coração da criação artística contemporânea." Uma figura, diz ele ainda, acompanhada por um modo ético predominante: a tradução.>>


Será que vale a pena definir já uma identidade para o que somos no agora? Será ao menos pertinente? Se os Beirut (lembro-me de ver a foto deles na edição em papel, na página deste artigo) são Altermodernos, será que o Há-Que-Dizê-Lo também o é?

A Sónia Balacó encontra-se em Londres, onde irá investigar melhor o assunto e tentar, inclusivé, tomar o chá das cinco na Starbucks com Nicolas Bourriaud. Patricia Couveiro irá em missão especial à capital Inglesa onde visitará a trienal da Tate, entre uma ida ao Museu de Cera e uma sessão fotográfica com os guardas do Buckingham Palace.

quarta-feira, abril 01, 2009

Basta!

Temos que mudar a imagem do cabeçalho deste blog. Basta de viver de glórias passadas. Venha o próximo espectáculo. Venham as aves!

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Susi, by Saramago.

Pudesse eu, e fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, e proibiria a utilização de animais nos espectáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza. Isto no que toca aos zoológicos. Mais deprimentes do que esses parques, só os espectáculos de circo que conseguem a proeza de tornar ridículos os patéticos cães vestidos de saias, as focas a bater palmas com as barbatanas, os cavalos empenachados, os macacos de bicicleta, os leões saltando arcos, as mulas treinadas para perseguir figurantes vestidos de preto, os elefantes mal equilibrados em esferas de metal móveis. Que é divertido, as crianças adoram, dizem os pais, os quais, para completa educação dos seus rebentos, deveriam levá-los também às sessões de treino (ou de tortura?) suportadas até à agonia pelos pobres animais, vítimas inermes da crueldade humana. Os pais também dizem que as visitas ao zoológico são altamente instrutivas. Talvez o tivessem sido no passado, e ainda assim duvido, mas hoje, graças aos inúmeros documentários sobre a vida animal que as televisões passam a toda a hora, se é educação que se pretende, ela aí está à espera.

Perguntar-se-á a que propósito vem isto, e eu respondo já. No zoológico de Barcelona há uma elefanta solitária que está morrendo de pena e das enfermidades, principalmente infecções intestinais, que mais cedo ou mais tarde atacam os animais privados de liberdade. A pena que sofre, não é difícil imaginar, é consequência da recente morte de uma outra elefanta que com a Susi (este é o nome que puseram à triste abandonada) partilhava num mais do que reduzido espaço. O chão que ela pisa é de cimento, o pior para as sensíveis patas deste animais que talvez ainda tenham na memória a macieza do solo das savanas africanas. Eu sei que o mundo tem problemas mais graves que estar agora a preocupar-se com o bem-estar de uma elefanta, mas a boa reputação de que goza Barcelona comporta obrigações, e esta, ainda que possa parecer um exagero meu, é uma delas. Cuidar de Susi, dar-lhe um fim de vida mais digno que ver-se acantonada num espaço reduzidíssimo e ter de pisar esse chão do inferno que para ela é o cimento. A quem devo apelar? À direcção do zoológico? À Câmara? À Generalitat?

P. S.: Deixo aqui uma fotografia. Tal como em Barcelona há grupos – obrigado - que têm pena de Susi, na Austrália também um ser humano se compadeceu de um marsupial vitimado pelos últimos incêndios. A fotografia não pode ser mais emocionante.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

URGENTE

Caros leitores e não leitores.
Procuramos uma bateria para o nosso espectáculo "Rir tendo consciência da tragédia" que vai ser reposto em Março na Casa Conveniente.
Sabemos que uma bateria é um objecto de muito valor para ser emprestada assim, a 6 marmanjos, mas pensem com carinho.Afinal é pela arte.
Prometemos tratar muito bem dela, mas também não poderia ser de outra forma.


Vá, podemos pagar alguma coisa...vejamos:
- um convite para o espectáculo. NO CAMAROTE
- durante o espectáculo mencionaremos o nome do dono da bateria, pelo menos duas vezes.
- no final do espectáculo poderá ter a oportunidade de subir a rua do alecrim com os actores em direcção ao Bairro Alto.

Se alguém estiver convencido, deixe aqui um comentário ou envie-nos um email: ha.que.dize.lo@gmail.com

Se responder nos próximos 2 dias, junta-se ainda a oferta de um magnífico croissant de chocolate da Panificadora da Rua da Rosa


E AINDA...
se para além da bateria, emprestar-nos uma guitarra eléctrica, prometemos fazer um espectáculo todo baseado nisto:

segunda-feira, janeiro 26, 2009

E tudo o vento levou...

1.

2.

3.

É assim que, depois de lavar a roupa, conseguimos estragá-la ainda mais. 5 à Sec, precisamos de mecenato!

PS: a todos os possíveis emprestadores de roupa, não retenham este posto na vossa memória. Não é assim que tratamos os figurinos que nos emprestam. Esses vão a banhos ou lavagens a seco nas lojas da especialidade, e até os devolvermos, contamos-lhes histórias (ou estórias) ao adormecer.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

A vida dos outros parece ficção 2

"Leiria, 26 de Fevereiro de 1934

Como é triste ver caírem para a jarra as minhas mais belas ilusões!
Eu fazia do casamento uma ideia tão diferente do que me dizem ser na realidade!
Julgava que o casamento fosse (talvez com um pouco de romantismo) a união absoluta de duas almas, que a êsse acto tão solene só fôssem levadas por uma grande afeição mútua, que houvesse a maior franqueza entre marido e mulher e que, acima de tudo, fôssem muito fiéis um ao outro. Embora no resto da vida se não amassem como nos primeiros tempos, os unisse sempre uma grande afeição.
Afinal dizem que é tudo ao contrário. A maior parte dos casamentos fazem-se pro ambição, cada um pensa em si e faz o que lhe aprover. [Conhecimento?] moral um do outro não existe, nem se preocupam com isso. Desentendem-se? Divorciam-se...
É triste... Se eu não encontrar um homem diferente da maior parte dêles, estou convencida que me não caso."


M.J.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

segunda-feira, janeiro 19, 2009

a edgar allan poe*

Meu relógio de pés nus a quinta da noite italiana
minha cabeça de anéis dolorosos como jacintos pretos recém-colhidos
minha criança grande escorregando pelos braços da mãe quando mil
candelabros dardejando nas escadas dos palácios anunciavam um corpo delicado e quente
minha caranguejola de diamante entre a vida e a morte a graça e a desgraça a verdade e o erro
meu malfadado e misterioso homem
figura descida    figura embrulhada    figura muitos pés acima de si mesma e no entanto figura de claridade
figura de homem deitado com um estrela na boca escorrendo água 
meu Eliseu do mar    amado das estrelas
segredo das suas águas silenciosas
meu rio negro áspero venenoso cintilante e tremente esmeralda e violeta
por onde mil nadadores lutando contra a corrente procuram ainda em vão à superfície o que só no mais fundo da água resplandece
a tua parede branca de aparições fumegantes

LIGEIA
"acima ou fora da matéria só comparável à estrela de sexta grandeza, dupla e variável, que se encontra próximo da estrela grande da Lira"

MORELLA
de mãos frias e agudas, falando, falando sempre, "porque as horas de felicidade passam e a alegria não se colhe duas vezes na vida, como as rosas de Paestum duas vezes no ano"

RODERICO
os cabelos sedosos em torno da face, os olhos grandes, húmidos, luminosos, os lábios numa curva extremamente bela

"Contei-lhes a minha história" - "não quiseram acreditar-me!"

Mas há, sim, outros mundos além deste, 
outros pensamentos além dos pensamentos da multidão,
arcanjos que se ergueram para cobrir desertos
onde só o universo arde
porque dois lábios finamente delineados tremem
porque Mentoni ainda ri, em traje de cerimónia, com a sua figura de sátiro
porque não houve forma de passarmos adiante e uma terrível nuvem cor de chumbo enche de espantosa velocidade o espaço
Maelstrom Maelstrom dos teus olhos no mundo
Maelstrom destruindo caixas sobre caixas sobre o ventre total de uma caixa de música americana
como as que às vezes se vêem nos porões
as mãos brancas e nuas de firmes aranhas de prata

* de Mário Cesariny, àquele cujos 200 anos sobre o seu nascimento se celebram hoje. in Pena Capital.

Estamos a preparar-nos para conquistar a Europa

sábado, janeiro 10, 2009

A vida dos outros parece ficção 1

"23 de Maio de 1936

Tudo acabou! O Carlos casou hoje.
Já não tenho o direito de escrever os meus sentimentos a respeito dêle. Mas antes de fechar, para sempre este livro, onde assentei as minhas maiores alegrias e os meus maiores sofrimentos, quero analisar o que presentemente sinto pelo Carlos.
Sofri hoje ao saber que êle se ligava a outra. Mas não foi o coração que sofreu, foi o orgulho. Já lhe não tenho amor. Parece-me, o que tenho, com certeza é muito pouca sorte."

M.J.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

o que dizemos pelo messenger

i'm the son of Rambow! says: (4:27:05 PM)
nao me aptece trabalhaaaaaar

i'm the son of Rambow! says: (4:27:08 PM)
olha tens seguro de saude?

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:10 PM)
tou a ver

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:21 PM)
eu tenho dir cavar o buraco no meu quintal pa

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:28 PM)
enterrar a cadela do  meu avo

i'm the son of Rambow! says: (4:27:28 PM)
pra enterrar quem? :S

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:30 PM)
merquita

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:34 PM)
ja venho

i'm the son of Rambow! says: (4:27:37 PM)
mas morreu qdo?

Lydie - com a ajuda de uma tesoura de cozinha limpe muito bem os rins says: (4:27:41 PM)
ela ta na mala do carro